OS IRMÃOS SAFRA: UM NOME QUE VALE OURO
No mundo todo, existe uma mística em torno do clã que remonta aos tempos em que Jacob, o patriarca, iniciou seu primeiro banco em Alepo, atual Síria, no início do século passado. Os filhos seguiram o caminho e também se transformaram em banqueiros de sucesso. Edmond, que morreu num incêndio criminoso em seu apartamento em Mônaco, em 1999, fez do seu Republic National Bank of New York uma referência mundial no comércio de ouro – ou "safra", como o metal é chamado em árabe. No Brasil, os irmãos Joseph e Moise viraram sinônimo de gestão de grandes fortunas com o banco Safra. Os irmãos estão no topo da lista dos brasileiros mais ricos, com uma fortuna estimada em US$ 4,7 bilhões. Agora, entra em cena o mais novo membro da dinastia Safra. Alberto Joseph Safra, o filho caçula de Joseph, está entrando no ramo bancário e vai comandar o banco J. Safra, que está sendo estruturado na cidade de São Paulo. Discretíssimos, como convém, os Safra quase não aparecem socialmente e não dão entrevistas. Sobretudo para falar de sua fortuna.
ALOYSIO ANDRADE FARIA: UM REAL TRANSFORMADO EM DÓLAR
Na 170ª posição da lista da Forbes está Aloysio Andrade Faria, hoje com 84 anos, com fortuna avaliada em US$ 3,2 bilhões – o segundo brasileiro mais rico do mundo. Mas Faria, bom mineiro que é, não transparecer isso. Cultiva fanaticamente a discrição e não tem nada do estereótipo do banqueiro cheio de si - e de grana. Ainda parece um médico de família, o que, na verdade, ele foi. Formado em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais e pós-graduado na Northwestern University, de Chicago, ele teve de abandonar a profissão para tocar o banco do pai, Clemente Faria, que faleceu em 1948. A atual fortuna de Aloysio engrossou com a venda do Banco Real para o ABN Amro em 1998, por US$ 2,1 bilhões. Foi o maior cheque já emitido no país, segundo comentam analistas do mercado. Além de aplicar a bolada no mercado financeiro, o que resulta em ganhos astronômicos num país com os juros mais altos do mundo, a parte do negócio que não foi vendida foi transformada no Banco Alfa, que se tornou o 16º maior banco do Brasil, com ativos de US$ 2,7 bilhões, de acordo com a Forbes. O banqueiro também tem outros negócios fora do setor financeiro, inclusive a rede de lojas Casa e Construção e mais 18 empresas, entre elas a rádio Transamérica e a rede de sorveterias La Basque. Aloysio adora sorvete. Ele dá expediente diário no banco, auxiliado por uma única secretária. Quando não está trabalhando, curte a fazenda no interior de São Paulo, onde se dedica a sua maior paixão, a criação de puros-sangues da raça Árabe – plantel considerado um dos melhores do País. Sua paixão é tanta que, ocasionalmente, ele abandona a reclusão e se expõe nos leilões de seus animais.
JORGE PAULO LEHMAN: GARANTIA DE BONS NEGÓCIOS
Foi Marcel Telles, presidente do Conselho de Administração da Ambev, quem idealizou, costurou e planejou e executou o maior negócio já feito no mundo na área de cervejas: a aliança entre a belga Interbrew e a brasileira Ambev, no ano passado. Na operação, os três principais ex-controladores da companhia – o próprio Telles e seus sócios Jorge Paulo Lehman e Carlos Alberto Sicupira – receberam um prêmio de 78% na venda de suas ações ordinárias, papéis com direito a voto, e embolsaram US$ 4,1 bilhões. Mas a fortuna de Jorge Paulo Lehman antecede a venda das ações da Ambev. Fundador do Banco Garantia, controlador das Lojas Americanas e investidor em grandes negócios, Jorge Paulo é, sem dúvida, o mais fechado de todos os bilionários brasileiros. Se os demais normalmente não se expõem, Lehman tem verdadeira obsessão por segurança. Diante da ameaça de seqüestro de seus filhos, mandou-os para a Europa. E passa lá a maior parte de seu tempo. Não existem fotos recentes dele e, mesmo na internet, contam-se nos dedos as reportagens que falam de Lehman – que foi surfista e tenista na juventude - fora do mundo dos negócios. Antes de fazer fortuna, ele freqüentava as grandes festas do Rio e, com sua boa pinta, papo agradável e êxito nos negócios, fazia sucesso entre as mulheres. A venda de suas ações na Ambev agregou mais 1 bilhão de dólares a seu patrimônio.
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: FEITO DE CIMENTO
Ele é a terceira geração que comanda o grupo Votorantim, criado por seu avô, o imigrante português Antônio Pereira Ignácio. Tudo começou com uma tecelagem em Sorocaba. Nas décadas seguintes, seu pai, José Ermírio de Moraes, que chegou a ser senador, transformou a empresa num império. A sede da Votorantim fica no centro da capital paulista, em um prédio com vista para o Theatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, que um dia abrigou o mais luxuoso hotel de São Paulo, o Esplanada. É neste local que Antonio Ermírio de Moraes, aos 77 anos, dá expediente diariamente. O grupo - que atua nas áreas de cimento, celulose, papel, alumínio, zinco, níquel e aços longos - emprega mais de 25 mil pessoas. E é Antônio Ermírio – que tem nove filhos – quem comanda a transição do grupo para as novas gerações. Presente em todos os momentos econômicos e políticos do país e uma das opiniões mais respeitadas do empresariado nacional, o executivo é viciado em trabalho. Trabalha a partir das 7h da manhã e, em mais de 50 anos no comando da empresa, só tirou férias uma única vez. Não anda com seguranças. E dizem que usa o mesmo terno há décadas. Mas, em contrapartida, é de extrema elegância em matéria de ética e postura pessoal. Nacionalista inveterado, é o único dos bilionários brasileiros que fez fortuna exclusivamente com indústria. E não usufrui dela. A não ser para reinvestir em suas empresas.
JULIO BOZANO: CAVALGANDO MILHÕES
Um dos últimos baluartes na banca de investimentos brasileira, o empresário Júlio Rafael de Aragão Bozano, 64 anos, gaúcho radicado no Rio, em 2000 passou na grana o Grupo Meridional, que inclui o legendário banco Bozano, Simonsen, fundado em parceria com o falecido economista Mário Henrique Simonsen e amealhou mais US$ 1,3 bilhão. Com seu faro infalível para bons negócios - ele já foi considerado o Rei do Aço, quando comprou siderúrgicas com moedas podres, Bozano manteve para si as participações em empresas não-financeiras, como a Embraer (11%), e o portal de investimentos InvestShop. O que Bozano melhor sabe fazer é dinheiro. Nos anos 90, comprou participações importantes na Usiminas, na Cosipa e na CST. Depois vendeu tudo, com um lucro estimado em US$ 500 milhões. Mesmo assim, Bozano precisou pensar muito, e hesitar muitas vezes, antes de tomar essa decisão crucial. Afinal, onde quer que estivesse, o Bozano, Simonsen fazia parte de sua rotina. Ele ainda viaja muito, principalmente para locais onde possui cavalos - Estados Unidos, Argentina e o sul do Brasil. Mas quando está no Rio de Janeiro dá expediente diariamente como qualquer executivo. É raro encontrá-lo de terno. É comum vê-lo elegante em roupas esportivas, como calça bege, camisa branca e velhos mocassins. Discreto, com pavor de holofotes e com fama de administrador agressivo, apesar do jeito calmo e bonachão, Bozano aparece pouco. Nas raras vezes em que dá declarações, repete uma de suas frases preferidas: "O que o dinheiro me dá não é a possibilidade de fazer o que quero, mas a oportunidade de não fazer o que não quero". Sua maior paixão, a exemplo de Aloysio Faria, são os cavalos. Ele tem mais de 600.
ABILIO DINIZ: AÇÚCAR QUE VIROU DINHEIRO
O empresário Abilio Diniz, dono do Pão de Açúcar, pode ser traduzido em dois números básicos: 6,5% e US$ 1,3 bilhão. O primeiro expressa sua taxa de gordura no corpo. O segundo aponta a fortuna de um dos 691 homens mais ricos do planeta e a sexta maior riqueza do Brasil. Essas duas cifras representam a obsessão com o esporte e a revolução administrativa que tirou o Pão de Açúcar da quase insolvência para o posto de campeão do varejo no país. Abilio corre 10 quilômetros todas as manhãs e faz pelo menos três horas de ginástica diárias. No auge da crise do, entre 1988 e 1992, o grupo chegou a reduzir o quadro de funcionários para apenas 17 mil pessoas. Hoje são 70 mil empregados e um faturamento de mais de 13 bilhões. A história do Grupo Pão de Açúcar pode ser dividida em duas partes. A primeira começa em 1929, quando Valentim, o patriarca dos Diniz, hoje nonagenário, embarcou num navio com o sonho de começar vida nova na América. O imigrante português acabara de cruzar o Atlântico e encantou-se com a beleza de um maciço de pedra no horizonte. "É o Pão de Açúcar", avisou um passageiro. A partir de uma pequena padaria, o jovem luso ergueu, em 1948, um estabelecimento que se tornou ponto de encontro das madames paulistanas na época: a doceira Pão de Açúcar. A segunda parte da história da empresa tem como marco a recuperação do buraco em que ela se encontrava no final dos anos 80. É aí que entra o tino empresarial de Abilio dos Santos Diniz. Quatrocentas unidades da rede haviam sido fechadas e mais de 30 mil funcionários, demitidos. Parecia não restar alternativa senão esperar o grupo definhar até a morte. Abilio não se conformou. Vendeu imóveis, tomou empréstimos e anunciou a venda dos carros cedidos aos gerentes e diretores. "Chegamos até aqui com trabalho e humildade, mas agradeço primeiramente a Deus", costuma dizer Abilio, devoto de Santa Rita de Cássia.
MARCEL TELLES E CARLOS SICUPIRA: CERVEJA GELADA
Eles aparecem juntos porque fizeram carreira juntos e juntos ficaram bilionários. Marcel Herrmann Telles é formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. De 1989 a 1999, exerceu o cargo de diretor-presidente da cervejaria Brahma. Carlos Alberto da Veiga Sicupira é formado em administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e diplomado na Harvard Business School, dos EUA. Ele é também membro do Conselho de Administração da AmBev e sócio da GP Investimentos. De 1990 a 1999, atuou como membro do Conselho de Administração da Brahma. Com a venda de suas ações na Ambev, cada qual levou mais ou menos 1 bilhão de dólares. Bem-vindos ao clube! E um brinde com cerveja.
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