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GESTÃO DO DINHEIRO

Degustar um bom vinho e escolher uma roupa de grife já são hábitos incorporados à rotina de muitos brasileiros. Aliás, comprar, gastar, consumir parecem não ter qualquer mistério para a maioria. Mas, quando o assunto é controlar e administrar com inteligência as próprias finanças, a situação muda completamente. Muita gente erra. E não é difícil entender por que isso acontece.

Decisões relacionadas a dinheiro geralmente são complexas e envolvem o lado emocional das pessoas. Um grande passo mal dado ou uma sucessão de equívocos menores pode colocar tudo a perder. Seja nas bolsas de valores, no mercado imobiliário ou no supermercado, nós sempre cometemos erros financeiros que nos causam enormes perdas.

Os enganos podem começar pelas pequenas economias que deixam de ser feitas no dia-a-dia, passar pela falta de informação na hora de aplicar o dinheiro que sobra e chegar às grandes decisões, como a compra de um imóvel ou a abertura de um negócio próprio. Mesmo o investimento em imóveis, tido como um negócio incondicionalmente lucrativo, pode não trazer o retorno esperado.

Endividar-se além das possibilidades também está entre os maiores pecados financeiros que se podem cometer. Você certamente deve conhecer alguém que tem um bom carro, uma casa confortável, freqüenta os melhores restaurantes, mas vive atolado em dívidas. Pessoas assim não poupam um centavo sequer porque querem manter o status. Pagam altos juros no cartão de crédito e no cheque especial e nem se dão conta de quanto isso é prejudicial para o seu bolso. Outro engano comum é pensar mais no curto prazo do que em planejamentos mais longos.

Muita gente ainda pensa como nos tempos de inflação alta, em que o importante era a sobrevivência imediata, e acaba por tomar decisões erradas. Não há problema em cometer erros, isso acontece até com os especialistas, mas você realmente terá dificuldades se não aprender com eles ou se continuar a cometer os mesmos erros um dia depois do outro. Melhor ainda do que aprender com os próprios erros, é poder antecipar-se e conhecer os erros dos outros para não repeti-los.

Por isso, listamos os nove principais erros cometidos na gestão do patrimônio:

INVESTIR NAQUILO QUE NÃO CONHECE
É provável que você já tenha ouvido falar de alguém que perdeu grandes quantias num negócio próprio que não deu certo ou num investimento exótico oferecido por um vendedor mal-intencionado. Pode ser que você mesmo já tenha passado por uma situação semelhante e, no final, vociferado contra o gerente do banco ou qualquer outra pessoa que o tenha estimulado a tomar aquela decisão. Infelizmente, nessas ocasiões, encontrar culpados não costuma ser recomendável para a sua saúde física e mental nem alivia o tamanho da sua perda. O erro maior, segundo os especialistas, não está em ouvir a opinião de fulano ou beltrano, mas em deixar de conferir se o que se diz tem real fundamento antes de entrar numa barca furada. Se você não for capaz de compreender em que está investindo, não o faça. Antes de tomar uma decisão, é aconselhável informar-se, primeiro, sobre as características do negócio ou da aplicação nos quais você está interessado. Mergulhar em algo novo sem conhecer as suas especificidades pode ser um convite ao fracasso. Em tempo: não se esqueça de que o olho do dono engorda a boiada. Quem deixa a cargo de um conhecido ou de um profissional as decisões de sua empresa ou de todos seus investimentos pode abrir uma brecha para surpresas indesejáveis. Mesmo que você acredite que um expert possa trazer melhores resultados na gestão de seu patrimônio, você será sempre a melhor pessoa para administrar o seu dinheiro.

CONCENTRAR SEUS INVESTIMENTOS EM IMÓVEIS
A concentração de quase todo o patrimônio em imóveis é um dos principais erros cometidos pelos investidores brasileiros. Nem poderia ser diferente. Nossos avós costumavam dizer que um bem de raiz, como o imóvel, é o melhor investimento do mundo. E, realmente, durante a era da superinflação, ter um imóvel era uma forma eficiente e segura de proteger o dinheiro contra a desvalorização da moeda e as bruxarias heterodoxas geradas pelos economistas do governo. Uma família típica brasileira chega a ter 90% do patrimônio em imóveis, segundo consultores de finanças pessoais. O ideal, no entanto, de acordo com os especialistas, seria imobilizar de 35% a, no máximo, 60% do patrimônio, contando com a sua própria casa. A compra de imóveis nem sempre compensa. É claro que, do ponto de vista do investimento, tudo depende do tipo de imóvel do qual se está falando, da região, do bairro e até do trecho da rua em que ele se localiza. Num mercado tão diversificado, existem alguns inconvenientes comuns à concentração do patrimônio em imóveis. Talvez a principal desvantagem seja a falta de liquidez. Você coloca o imóvel à venda, mas entra mês, sai mês e o negócio simplesmente não acontece. Se estiver precisando do dinheiro com urgência, você, provavelmente, terá de baixar o preço. Conseguir o valor que você acredita ser justo leva tempo, às vezes, anos. E, no final, é possível que você se dê conta de que aquele imóvel ao qual se afeiçoou tanto pode não valer a quantia imaginada. Uma vez realizado o sonho da casa própria, comprar outro imóvel nem sempre está entre as melhores opções de investimento.

NÃO TER UMA RESERVA PARA EMERGÊNCIAS
Você gasta tudo o que ganha mensalmente e não tem uma reserva, por menor que seja, no banco? Se a resposta for positiva, cuidado! Você pode estar no fio da navalha. O que você faria se precisasse de um dinheiro extra para cobrir acidentes de percurso: uma doença, um falecimento na família, uma demissão ou um período de entressafra no seu negócio? Provavelmente, ficaria na mão ou teria de recorrer a parentes ou amigos. Ou pediria um empréstimo no banco a juros estratosféricos. Portanto, se você faz parte do time dos sem-reserva, talvez seja conveniente começar a formá-la. Em princípio, essa poupança deve ser feita para não ser usada. Mas, se for preciso, ela estará lá. Segundo os especialistas, essa reserva não deve ser misturada com a sua poupança de longo prazo. Deve ficar numa conta à parte. Como ela pode ser necessária quando você menos espera, é recomendável que esteja investida em aplicações de alta liquidez, ou seja, que permitam resgate a qualquer hora, como a velha caderneta de poupança ou um fundo de renda fixa. O objetivo aqui não é conseguir a melhor rentabilidade do mercado. Apenas preservar o valor do dinheiro. Para a pessoa física, manter uma reserva para emergências é uma obrigação, assim como uma empresa não pode viver sem capital de giro.

PERDER O CONTROLE DAS DÍVIDAS
Ficar no vermelho por causa de uma emergência ou de um descuido eventual não é demérito para ninguém. O crédito bancário existe exatamente para isso. Mas pagar juros no cartão de crédito ou no cheque especial com freqüência é, obviamente, um erro drástico. Seja simplesmente pelo fato de se gastar mais do que se ganha, seja por não querer sacar o dinheiro aplicado no banco. Não há investimento que compense os juros exorbitantes do cheque especial e do cartão de crédito, os maiores do mercado, hoje na faixa de 9% ao mês. A essas taxas, uma dívida dobra de valor em apenas oito meses. Muita gente incorpora o limite de crédito dado por bancos e administradoras de cartões como parte da renda familiar. Às vezes, ao juntar todas essas facilidades, a capacidade de compra pode até dobrar. O cliente fica com a sensação equivocada de poder consumir mais, sem se dar conta de que, na prática, ao usar boa parte de sua renda para o pagamento de juros, estará diminuindo o seu padrão de vida.

DAR IMPORTÂNCIA ÀS GRANDES DECISÕES E MENOSPREZAR AS PEQUENAS
Quase todo mundo costuma se preocupar com os grandes gastos, como a compra de um carro ou de um imóvel, mas acaba se esquecendo das pequenas despesas do dia-a-dia. Como as compras, em geral, são semanais ou mensais, cada ida ao supermercado oferece uma infinidade de possibilidades de economizar preciosos trocados. Quem conseguir economizar 10 reais uma vez por semana a cada ida ao supermercado terá acumulado no final de um ano 540 reais, o suficiente para passar, no mínimo, dois fins de semana com a família na praia. O mesmo princípio vale para as idas ao restaurante, à padaria, a consultas médicas e a outras atividades corriqueiras. O importante não é poupar muito, mas poupar sempre. É claro que ninguém vai quebrar porque paga uma tarifa de 20 reais por um pacote de serviços de um banco, enquanto poderia estar gastando apenas 5 reais em outra instituição. Mas, ao longo de um ano, esses 15 reais de diferença se transformarão em 180 reais. E se você somar os 180 reais que poderiam ser economizados em tarifas bancárias com os 540 reais do supermercado, já seriam 720 reais num ano. Isso para ficar em apenas dois exemplos banais. A compulsão pelas compras com cheque pré-datado, essa instituição nacional que se popularizou na era da superinflação, é mais uma armadilha que consome valiosos reais que poderiam estar reforçando sua poupança. Muita gente pensa que um desconto de 5% nas compras à vista é desprezível. Mas é preciso levar em conta que, num cenário de economia relativamente estável como o atual, representa muito. A maioria das aplicações financeiras hoje em dia não rende nem 1% ao mês. O mesmo vale para os pagamentos em três, quatro, cinco ou até dez vezes "sem juros" oferecidos por muitas lojas. O dinheiro, como qualquer outra mercadoria, tem um custo, e nenhum comerciante, absolutamente nenhum, vai cobri-lo para você de graça. Na verdade, o que costuma acontecer nesses casos é que o lojista, que deveria viver da venda de suas mercadorias, acaba atuando como se fosse um banqueiro. Com a diferença de que você acha que ele está sendo "bonzinho".

NÃO SEGUIR OS OBJETIVOS FINANCEIROS QUE VOCÊ MESMO DEFINIU
Você decide economizar para comprar um apartamento. No meio do caminho, não resiste a uma promoção tentadora e desvia aquele suado dinheiro para a compra de um carro. Resultado: tem de recomeçar do zero a poupança para o apartamento. E sejamos sinceros: se a cada novo impulso consumista você deixar de lado o apartamento, dificilmente vai conseguir comprá-lo. O mesmo raciocínio vale para a simples compra de um computador, a tão sonhada temporada no exterior ou aquela renda complementar para aproveitar tranqüilamente a aposentadoria. Por falta de disciplina, muita gente não estabelece prioridades em seus objetivos e acaba desviando seu foco de atenção daquilo que realmente importa. A maioria das pessoas não traça planos nem controla seus hábitos de consumo. Simplesmente sai gastando sem se planejar, endivida-se além da conta e depois reclama que não ganha o suficiente. A culpa, como sempre, sobra para o patrão. De acordo com os consultores, a palavra-chave para se ater às suas prioridades é disciplina. Sem ela, fica difícil conseguir realizar qualquer um de seus sonhos. E disciplina significa, quase sempre, poupar, fazer uma reserva para alcançar seus objetivos, separar uma parte da sua renda mensal, de 10% a 20%, para aplicar e esquecer que esse dinheiro existe. O hábito de poupar independe da sua renda. É muito mais uma questão de atitude, que pode ser incorporada ao cotidiano de qualquer um. Tem gente que ganha pouco e consegue guardar seu rico dinheirinho. Outras pessoas, que recebem verdadeiras fortunas, gastam absolutamente tudo. Isso quando não entram no cheque especial. Um dos grandes erros do brasileiro é investir apenas o que sobra no final do mês e não ter disciplina de guardar um pouco de seu dinheiro com regularidade.

USAR MAIS A EMOÇÃO DO QUE A RAZÃO NA HORA DE INVESTIR
Eis aqui outro erro clássico do brasileiro. É difícil, mas é fundamental deixar a emoção de lado na hora de aplicar seu dinheiro. Em geral, por medo ou desconhecimento, as pessoas agem precipitadamente e acabam perdendo dinheiro por isso. Para se sentir livre em relação ao dinheiro, é essencial perder o medo que se tem dele. O mercado acionário costuma ser um dos melhores testes para avaliar o lado emocional dos investidores. O sobe-e-desce faz parte da dinâmica das bolsas, sujeitas a turbulências provocadas pela variação de resultado das empresas e pelas expectativas de investidores em relação ao desempenho econômico do Brasil e de outros países. Quem investe em ações sabe que bolsa não é o lugar apropriado para cardíacos. Mesmo assim, é comum encontrar investidores que se desesperam nos piores momentos do mercado. Agem de forma emocional e tiram o dinheiro justamente quando a ação chega ao seu nível mais baixo, teoricamente o melhor momento para comprar. Se agissem racionalmente, provavelmente manteriam seus investimentos até que passasse o pânico e o cenário clareasse. As reações emocionais causadas pela perda são enormes e muitos investidores comuns não conseguem suportá-las. Pular de galho em galho na tentativa de sempre acertar o melhor alvo também é uma atitude emocional. A probabilidade de ser bem-sucedido é mínima; nem os experts costumam conseguir essa proeza. O investidor assíduo, que aplica sempre, com consciência e sob o império da razão, tem mais chance de se dar bem do que aquele que está sempre em busca do melhor momento para entrar e sair do mercado. Obviamente, ser racional não significa ser omisso. Quem fica parado é poste. Mas muita gente acaba por avaliar seus investimentos pelo que eles eram quando foram feitos, e não pelo que valem hoje ou pelo seu potencial futuro de valorização. E isso vale para tudo, não apenas para o mercado financeiro.

NÃO CORRER RISCOS
Desde pequeno, todo mundo aprendeu a evitar riscos. "Cuidado com o escorregador, não brinque perto do carro", diziam e dizem as mamães. A lição começou em casa, continuou na escola e entrou na vida das pessoas - a insegurança, o medo de trocar o certo pelo duvidoso, ainda é muito forte para a maioria, principalmente na carreira e nos assuntos relacionados a dinheiro. Não é raro encontrar quem se acomode numa posição na qual o salário não parece bom e o trabalho não satisfaz. Afinal, para que arriscar? É difícil evoluir profissionalmente sem correr riscos. Na carreira, assim como nos investimentos, as grandes oportunidades embutem risco, por isso as recompensas são maiores. Com as aplicações financeiras não é diferente. A maioria não suporta a idéia de investir suas economias e não tê-las de volta integralmente. Uma máxima do mercado financeiro, no entanto, diz justamente que, quanto maior for o risco de uma aplicação, maior a possibilidade de ganho. Essencialmente, toda decisão que nós tomamos é um risco, de uma forma ou de outra. É importante aprender a gerenciar o risco, em vez de evitá-lo. No dia-a-dia, já fazemos isso sem nos dar conta. Quando deixamos de ir a um caixa eletrônico à noite, num lugar escuro, por exemplo, estamos minimizando o risco de ser assaltados. Se não fizermos esportes radicais, também teremos menor probabilidade de morrer ou de nos acidentar. Que tal aplicar esse princípio para fazer a gestão de risco de seus investimentos? Ao diversificar as suas aplicações, por exemplo, você poderá diminuir o risco de ver o seu patrimônio minguar. A idéia do gerenciamento de riscos é não ser surpreendido.

NÃO LEVAR EM CONTA A INFLAÇÃO, POR MENOR QUE ELA SEJA
Quando se fala em investimento, um dos maiores erros que se podem cometer é desprezar a inflação, independentemente de ela ser alta ou baixa. A inflação pode anular parte ou todo o ganho que o investidor acredita estar obtendo com uma aplicação financeira. Principalmente quando o que está em pauta é uma poupança de longo prazo, seja para custear a sua aposentadoria, seja para pagar a faculdade das crianças dentro de alguns anos. É certo que, hoje em dia, com a estabilidade trazida pelo Plano Real, implementado em 1994, esse problema já não é tão grave quanto alguns anos atrás. Afinal, desde então, o salário deixou de ser corroído diariamente pela inflação e as pessoas puderam organizar seus gastos. Muita gente tem conseguido até se planejar para realizar objetivos futuros. Mas nem por isso a inflação deve ser desprezada por qualquer investidor digno do nome. A tendência é que a inflação continue sob controle. Ao menos é o que se espera. Mas a recente desvalorização cambial mostra que nem tudo pode ser previsto. Para se garantir, é importante, sempre, levar em conta o rendimento real, ou seja, descontado da inflação, de seus investimentos. Muitas vezes, ao descontar os impostos e a inflação, os ganhos que você julgava extraordinários são mínimos e, em alguns casos, até inexistentes. Isso significa que, em termos reais, o investidor está perdendo dinheiro ou diminuindo o seu patrimônio. A única maneira realmente efetiva para resguardar o valor das aplicações é obter um rendimento maior do que a taxa inflacionária do período em que você está aplicando seu capital.

Fonte: www.guiadeinvestimento.com.br

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